domingo, julho 26

Irmãos Naves: erro real, acerto ficcional

A mostra Baseado em fatos reais está em cartaz no CCBB Brasília até o próximo dia 2 de agosto. Hoje tive a chance de assistir em 35mm "O caso dos irmãos Naves" (1967) - dirigido por Sergio Person, também co-autor do roteiro ao lado de Jean-Claude Bernardet.

Célebre caso de erro judiciário no Brasil, Person e Bernardet utilizaram-se da experiência Neo-Realista no uso de atores naturais (não-atores) para compor o elenco do filme, formado por jovens (Raul Cortez e Juca Ferreira) e gente tarimbada como Lélia Abramo e Anselmo Duarte.

Rodado trinta anos depois do ocorrido histórico, o filme parte da premissa do "fato real" para construir um panorama da difícil convivência entra a ação da força policial e a justiça em pleno Estado Novo - situação totalmente similar àquela enfrentada pela sociedade brasileira durante a longa ditadura militar.

Culpados ou inocentes? Pouco importa isso se há um crime de difícil solução para um policial sem escrúpulos - Anselmo Duarte quebrando todo o estereótipo de 'bom moço' da época das Chanchadas.

As imagens de violência encenada foram montadas com velocidade sufocante, tornando-as de grande impacto para o espectador. A voz 'off'' alimenta um clima documental e, ao mesmo tempo, de filme histórico, ratificando a imagem com a chancela de 'verdade cinematográfica'.

Se nunca fomos tão bons em filmes de tribunal como os norte-americanos - do mesmo ano, O menino e o vento é excepcional neste recorte - "O caso..." traz à tona a sede de justiça e liberdade que, no cotidiano de tantas gerações, foi sonho mal-dormido, quimera de pretensas democracias.

domingo, julho 12

Você tem medo de quê

Água, rato, botão, seringa, morte, ralo. O que quer que te cause medo, sempre vai ter alguém mais amedrontado que você. A fobia - pavor e descontrole humanos - é a matéria-prima para o exercício da meta-ficção, do documentário fake que é "Filmefobia", dirigido por Kiko Goifman.

Já escrevi sobre um filme dele antes: "33" olha pra si enquanto "Filmofobia" olhar pro outro sem piedade; realiza-se porque existe a transgressão; reflete sobre os limites (im)possíveis estabelecidos de forma arbitrária - real ou ficção? dor ou prazer? O que os separa?


Jean-Claude Bernardet é o diretor-ator que leva à 'câmara de torturas' sujeitos dispostos a enfrentar o medo que, de tão aterrador, mal consegue se exprimir tantas vezes. Ele é agente do terror e reage a sua prôpria experiência/experimento. Nós é que estamos no lugar mais confortável e, certamente, temos muito mais de sadismo do que o 'doutor crueldade' de Bernardet.

Afinal, ele tem uma certeza: "a única verdade está no fóbico diante de sua fobia". E quantas verdades temos nós, além do medo de ter medo, de estar fora de controle, de não escapar de nós mesmos? Entre o que parece e o que é, apenas alguns passos distam.

Sem surpresas