Se o zero não é vazio, nada é, nem o próprio vaso de barro – moldado para dentro dele se dar forma ao vazio aparente... Reflexões surgem do documentário paulista de Andrea Menezes e Marcelo Massagão,
O zero não é vazio, exibido esta semana no Tintin Cineclube e, sem dúvida, um dos mais interessantes da série
DocTV, exibidos na sessão
retrô da primeira quarta do mês. Alinhavando histórias de ‘personagens reais’ que vivem entre um real imaginado e uma aparente realidade, vamos acessando a relação dessas pessoas com a escrita – nem sempre entendida pelas palavras – e como ela se torna indispensável na sustentação das personalidades, o próprio sentido da vida à margem do sistema opressor. Poetas e cronistas da rua, ou ensimesmados em suas trajetórias pessoais, entregam-se aos grafismos e neologismos da linguagem verbal; agradam e chocam os comuns tentando arrebentar a barreira que ainda mantém a escrita ao lado dos detentores de uma erudição massificada. Sendo transeuntes quaisquer na vida rotineira de todo e nenhum lugar, tornam-se quase ficção e rompem as costuras do modelo mais tradicional de documentar a realidade – ainda bastante utilizado no projeto
DocTV. O estilo de Massagão, autor do indispensável
Nós que aqui estamos por vós esperamos, está impresso na transição não-linear entre as histórias; a marcação proposta pela música de José Miguel Wisnik; uma perspectiva de quem está ao centro, pois tem o controle da narrativa, mas abre-se à terceira margem, dando palavra, voz e humanidade a quem está sempre lá do outro lado, mas ninguém vê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário