quarta-feira, agosto 16

Zuzu Angel: um filme necessário

...Mas, o que é mesmo preciso para se ter um filme capaz de associar arte e entretenimento? Muito mais do que supõe o cinema brasileiro com olhos postos no Oscar. Não que Zuzu Angel [Sérgio Resende, 2006] possa ter pretensões artísticas além de exibir as criações da estilista Zuleica Angel, portando-se de todo como um filme libelo-pacifista ao refletir a ditadura militar do Brasil pelo recorte do sujeito, não de um grupo. Desde a década passada, produções que retratam o submundo do “Pra Frente Brasil” do militarismo chegam às telas, sendo o próprio Rezende responsável por uma dessas produções: Lamarca [1994]. Pois é sob a égide desse anti-héroi revolucionário que encontramos o jovem Stuart Angel Jones [Daniel de Oliveira] assaltando bancos e fazendo passeatas nas ruas cariocas, até a sua captura pelos “homens de preto” do regime. Aí começa a busca de Zuzu [Patrícia Pilar na imagem], escarafunchando as entranhas do poder militar e judiciário brasileiro, para saber onde fora parar seu filho. É isso o filme: um grito de amor maternal. Centrando na reluzente e talentosa estrela Global que é Pilar, acompanhamos a trajetória da protagonista em flashback, sempre entrecortada por quadros vários nos quais tenta-se explicar a relação dela com Stuart. O filme é marcado por momentos de alta carga (melo)dramática e se desenvolve sem atropelos - a música, entre Chico Buarque e Pedro Luís, ajuda a criar alguns climas sensíveis - contando uma boa história, mesmo que resumida aos seus “melhores momentos”. As tentativas de filmes históricos no Brasil, com suas reconstituições de época por demais cuidadosas, causam sempre um desconforto pelos excessos. Bons atores, como Daniel Oliveira e Leandra Leal, estão aquém de atuações anteriores, enquanto outros apenas reproduzem maniqueísmos característicos dos “filmes de repressão”. Se é assim, por que considerar Zuzu Angel necessário, como o título desse texto sugere? Nenhuma cinematografia mundial é feita apenas de filmes de arte, mesmo as mais vanguardistas. Filmes de alto orçamento, mas de resultados estéticos medianos porque comprometidos com o capital, são produzidos em todo lugar e o "mal necessário" dialoga com o público sem maneirismos, utilizando-se da linguagem televisiva já tão bem assimilada.... Mas vale salientar, que Zuzu Angel seja exemplo, que não há paciência pra sair sempre de casa para assistir televisão no escurinho do cinema.

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