segunda-feira, julho 31

3x4 ou uma comédia à moda antiga

Quando o burguês velho e endinheirado quer casar com a viúva interesseira, o funcionário público em ascensão e sua esposa tentam chegar ao casamento que está atrasado pelas confusões do casal português empregado do capitalista, o qüiproquó está montado lá no século 19. Três histórias cômicas entrelaçadas dão o mote para a Comédia 3x4, dirigida por Duílio Cunha, que esteve em cartaz no Theatro Santa Roza durante o mês de julho. Para criar um clima misto de commedia dell’arte [imagem], drama burguês à la Molière [lembro do embroglio de O doente imaginário] e frames de um cineminha mudo nos primeiros tempos, temos uma encenação que conduz o público à intimidade de tipos esdrúxulos, farsescos e suas intenções quase [des] honestas. Alcança-se o riso pelos diálogos marcados pelo linguajar próprio do brasileiro daqueles tempos, presentes nos textos de Arthur Azevedo e Martins Penna; através de frases impagáveis como “ponha-se ao fresco!” ou o bordão “E meta-se, e meta-se!”, até uma série impressionante de ditados populares costurados para a coerência de quem os fala. Manter o vocabulário antigo é não temer a incompreensão de uma platéia hoje pouco acostumada ao burlesco, mas por demais habituada ao grotesco das ‘comédias-piniqueira’ que dominam o cenário cômico na Paraíba há muitos anos. Segundo o diretor, a peça “prima pelo redimensionamento no uso do espaço, pelo diálogo entre os elementos da tradição e da contemporaneidade, retomando aspectos da comédia popular”. Os quatro atores que representam os vários papéis dão bem o recado – não temem o texto, tem ele na palma da mão – e, em alguns momentos, a velocidade da mudança de figurino faz-nos lembrar do tour de force de O mistério de Irma Vap, que tanto sucesso fez no teatro brasileiro e virou até filme. A Comédia 3x4 resulta em um espetáculo que experiencia um timing diferenciado e propõe uma visão atualizada [nunca poderia deixar de ser assim!] para textos do passado sem, contudo, tirar-lhes a alma; uma graça que surge do jogo entre atores, texto e platéia: não seria isso, pois, a essência do teatro?!.

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