Em um filme inesperadamente antiurbano, com personagens que enrolam a língua no sotaque 'típico' do interior paulista e cultuam tradições fora da mídia/moda (reza, viola e dança caipiras), ficamos sabendo da missão cinéfila de Quinzin: prometera ao pai, antes dele morrer, que levaria o neto para assistir a um filme de Mazzaropi no cinema da cidade. Como o aniversário do garoto se aproxima, a hora de cumprir a promessa também chega.
Saem então pai, mãe, filho, cavalo e farnel em busca de uma (inexistente) sala de cinema em pequenas cidades do interior onde estivesse passando um (impossível) filme do comediante que consagrou o estilo ‘jeca de ser’ no nosso cinema em mais de 30 fitas.
O realizador se utiliza do interesse do matuto pelo cinema como motor para apresentar personagens em situações que misturam lances de comédia rural, filme que cultua o próprio cinema e drama urbano, tudo num enredo só.
Sem ser totalmente enfadonho, graças à atuação farsesca e respeitosa de Matheus Nachtergaele na pele de Quinzinho e de Gorete Milagres no da esposa indecisa entre viver o campo com o marido ou a cidade na solidão, Tapete vermelho escorrega por algumas más atuações, especialmente de coadjuvantes; uma impregnação de fé católica redentora – uma versão de Pagador de promessas à paulista? – e uma discussão superficial sobre a questão agrária no país através de ações que envolvem ficcionalmente o Movimento Sem Terra.
Mas a história está lá, contada aos moldes clássicos do começo ao fim, e acompanhá-la acaba por se tornar um programa tão inesperado quanto realmente assistir, nos dias de hoje, a um filme de Mazzaropi num cinema de shopping center da cidade.
Zonda Bez